Morador de rua na Rua da Praia em tarde de domingo.(Foto: Melgare) |
Carrinho no centro de Porto Alegre. (Foto: Eduíno Mattos) |
A distribuição de
alimentos a pessoas em situação de rua é uma ação meritória que
não pode ser contestada, mas que traz em seu bojo a cristalização
de núcleos permanentes de moradores de rua. A estes se junta uma
população de egressos do sistema carcerário, refugada pela família
e pelo mercado... Com o tempo começa a se desenvolver ali o tráfico
de entorpecentes. Este é outro retrato multifacetado da violência de
nossas ruas que urge controle público.
Os espaços para
geração de renda em condições especiais, e cito como exemplos os
ambulantes e os papeleiros, estão cada vez mais restritos. Os
primeiros, traídos pelo sonho do camelódromo, permanecem excluídos
enquanto categoria. Os últimos, com a espada de Dâmocles sobre a
cabeça. Os papeleiros abrangem uma população de cerca de 50.000
almas. Por lei, em 2016, será retirado o principal equipamento de
trabalho da categoria, o carrinho. Recicladores na prática cotidiana
contribuem para a preservação da natureza e para a potencialização
da economia. Trabalham de graça numa função de interesse público
e disto tiram o seu sustento. O que será destes pobres? Como será a
vida desta verdadeira cidade subnormal incrustada em enclaves no
tecido urbano, durante o ano da Copa?
Pedestres sem espaço nas calçadas. (Foto: Eduino Mattos) |
Massa Crítica de ciclistas de dezembro. (Foto: Naian Meneghetti) |
Cuidem-se pedestres e bicicletas! Todos pagam o capeamento asfáltico, mas ciclistas não possuem espaços dignos e pedestres só podem dispor por breves segundos.
Páginas seriam
necessárias para ponderar o amplo espectro de violência que convive
em nossas ruas e nas vizinhanças. O importante é refletir sobre os
fundamentos. Sobre a nebulosa fronteira entre a exploração
econômica predatória, sem respeito à natureza e à vida, e a
estrutura pública, permeada pela permissividade contemplativa. O
maior obstáculo é uma ordem econômica distribuidora de privilégios
e disseminadora de degradação. O caminho a ser desbravado e
pavimentado é da gestão pública comprometida com o interesse
ambiental e social, acima do pragmatismo eleitoral.
Manifestação em junho deste ano contra corte de árvores na Usina do Gasômetro. (Foto: Ramiro Furquim) |
Paulo Guarnieri
Publicado no Jornal do Centro/ edição Natal
Dezembro/2013